Você é uma pessoa que vive em busca da felicidade como se fosse um cachorro correndo atrás do rabo -- não importa o quanto você tente, nunca consegue alcançá-la? Pois saiba que a grande maioria das pessoas sofre exatamente disso, achando que a felicidade é um fim; e aqui eu vou te mostrar que não é bem assim.
Por que a felicidade é importante?
Antes de continuar a leitura, pare um instante e responda essa pergunta, como você descreveria essa emoção? Por que ela é importante pra você? Por que você a busca? A resposta mais óbvia é porque é bom se sentir bem. A felicidade é um fim em si mesma, igual eu disse anteriormente, muitas pessoas esperam que ela seja somente o fim; mas ela é também um meio para outros fins.
Muitos fatores na nossa vida podem melhorar por consequência da felicidade: quando aumentamos os níveis de felicidade, por mínimo que seja, também aumentamos os níveis de criatividade e inovação, bem-estar, engajamento, motivação, foco, performance. Podemos ver melhora até na saúde física, pois aumenta a imunidade, e isso leva ao fato de literalmente viver mais! Isso sem contar também os relacionamentos interpessoais, e isso é fácil de ver: é mais gostoso se relacionar com alguém feliz ou com alguém triste e reclamão? Não somente em questões amorosas, mas com qualquer pessoa; a felicidade facilita as relações!
Já podemos ver que a felicidade é um ótimo investimento, certo?
Agora, vamos nos comparar um pouco com as gerações dos nossos pais e avós: por que a felicidade importa hoje? Bem, a situação é diferente de alguns anos atrás, acredito que seja nítido o fato de que hoje tem muita depressão e ansiedade. Com o avanço da tecnologia, os níveis de estresse aumentaram exponencialmente; o que pode ser irônico, já que ela surgiu para facilitar a nossa vida, não é mesmo? Agora, preciso te apresentar um conceito que você verá muito por aqui: a antifragilidade.
Antifragilidade
Nassim Taleb apresentou a ideia de antifragilidade, ou "resiliência 2.0", segundo Tal Ben-Shahar. Para entender o 2.0, primeiro precisamos entender o que significa a palavra resiliência: imagina uma bola de borracha, aquela que você joga no chão e volta para a sua mão; quando ela choca contra o chão, ela é levemente deformada e depois volta ao formato original. Segundo a física, portanto, "resiliência é a propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica". Trazendo para o mundo emocional, seguindo a mesma lógica, é a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar aos desafios ou às mudanças com sabedoria; o mundo pode te "deformar", mas você voltará à sua "forma original".
Muito bem, agora, o que seria então a antifragilidade, a"resiliência 2.0"? O conceito é que, quando sob pressão, nós não voltamos à forma original, não voltamos a ser quem éramos antes, e sim nos tornamos mais fortes e melhores, resultado dessa pressão e estresse, a "deformação". Claro, isso requer algum nível de inteligência emocional, e é por isso que fico feliz por você estar aqui.
A antifragilidade acontece dentro e fora de nós, por exemplo: quando você vai pra academia fazer musculação, você estressa os músculos, e como resultado eles se tornam maiores. Portanto, somos fisiologicamente um sistema antifrágil e, através disso, te convido a mudar a sua perspectiva em relação ao estresse, perceba que ele não é algo ruim, pois nos ajuda a evoluir e a nos tornarmos mais fortes!
Outro exemplo, agora na área da saúde mental: quando você passa por um trauma (estresse psicológico muito forte), existe uma chance considerável de desenvolver um Transtorno Pós-Traumático (TEPT), e vemos muito isso nos Estados Unidos em ex-militares que foram para guerras. Mas o que quase ninguém fala é que existe um outro caminho que não é ficar sofrendo e remoendo o trauma, e sim um Crescimento Pós-Traumático (CPT), crescer e evoluir como resultado do trauma -- a antifragilidade --, em vez de ficar frágil e cair. Mas como pouca gente conhece esse termo, muitas não sabem que isso é possível, e isso por si só já é um grande obstáculo.
Simplesmente o fato de saber que a antifragilidade é possível, a torna mais provável de acontecer.
Você conhece aquela famosa frase: "tudo acontece para o melhor"? Eu discordo em partes, porque não necessariamente as coisas acontecem para o melhor. O Covid-19, por exemplo, matou milhões de pessoas. Mas veja só: nós podemos fazer o nosso melhor com as coisas que acontecem conosco.
Muitas gente me procura e diz "Pimen, eu não queria sentir nada negativo, eu acabo sempre reprimimdo tristeza, raiva ou medo", esse é o seu caso? Caso a resposta for 'sim', eu quero que você entenda que só existem dois tipos de pessoas que não sentem emoções negativas (ou emoções de qualquer tipo): psicopatas ou mortos. Portanto, se você experencia emoções dolorosas, isso é, na verdade, um bom sinal. Outra coisa que eu quero que você entenda de uma vez por todas é que é impossível controlar as emoções, impedí-las ou ficar imune a elas.
Há um grande problema: a maioria das pessoas, na maior parte do tempo, não se dão permissão para serem humanos e sentir as emoções de fato. Existe um livro que eu super recomendo: "Permissão para sentir", de Marc Brackett, onde ele explora toda a gama de emoções humanas, te dá ferramentas e um passo a passo pra compreendê-las e usá-las ao seu favor, através do método RULER. Não vou entrar nessa explicação, recomendo fortemente que leia o livro.
Dentre alguns dos motivos pelos quais as pessoas tentam reprimir os sentimento negativos, um dos principais é as redes sociais. Você abre lá o seu Instagram, TikTok, Facebook ou o que quer que seja, e todos lá parecem perfeitos e felizes, menos você. Você olha para a sua vida e pensa "eu não posso ser o único infeliz", e vai lá e posta coisas felizes também, mesmo não estando de verdade, só para mostrar que você faz parte desse movimento; e isso é uma forma de negar as emoções.
O que acontece se negarmos as emoções?
Não pense em um elefante rosa.
Em que você pensou? Exatamente, em um elefante rosa.
A mesma coisa acontece aqui: quando negamos as emoções, é aí que elas crescem; isso é o que chamamos de paradoxo. Eu adoro uma frase que diz "aquilo que você resiste, persiste". Isso significa que, se eu pensar "não posso ficar triste", é triste que eu vou me sentir, e ainda multiplicado. A saída nunca é tentar ignorar ou reprimir as emoções, por mais negativa que ela possa parecer; e ao mesmo tempo não é também ficar curtindo o sofrimento. Parece complicado? Calma, eu vou explicar.
Quando você percebe que você precisa se permitir sentir essas emoções e compreendê-las, quando você lida com elas e admite-as, elas diminuem.
Agora, pensa como se tivéssemos um canal que sai de dentro de nós até o nosso externo. Muito se engana se você acredita que existe um canal para os sentimentos positivos e outro para os negativos. Todas as emoções fluem pelo mesmo canal, é apenas um, tanto as positivas quanto as negativas. Então, presta atenção: se você impede da tristeza se manifestar, por exemplo, você está se impedindo de vivenciar plenamente a alegria, pois ao impedir um, impede todos.
"Quem não sabe chorar com todo o coração, também não sabe rir" -- Golda Meir
Mas não pense que é ficar em estado passivo, sofrendo e esperando passar; é preciso tomar a melhor decisão e agir, isso se chama aceitação ativa.
Vamos tomar um belo exemplo aqui: o que você define como coragem? Você acredita que é a ausência de medo? Pois não é, não é sobre não ter medo, é sobre ter medo, aceitar isso e ir adiante de qualquer forma, com o medo. Virou a chave?
Você deve estar me perguntando: "Pimen, mas se eu sentir inveja isso não me torna imoral?" Não! Emoções estão fora do domínio social, ou seja, não é sentir inveja que me torna imoral, é a ação, o comportamento guiado pela inveja, o que você vai fazer com esse sentimento? Lembre-se do que eu disse anteriormente: quanto mais você nega, maior fica; por isso, paradoxalmente, é importante aceitar a emoção para tomar as melhores decisões. Se você negá-la, você acaba tomando decisões baseadas e guiadas pela emoção e impulsividade.
Oi, tudo bem?
"Que bom que você perguntou, porque eu não estou bem, o meu casamento acabou, meu gato morreu, estou passando por problemas financeiros e estou nesse emprego que eu detesto só para ganhar o meu pão de cada dia" -- você já se deparou com alguém que responda assim? Aposto que não. Ninguém vai responder ao "oi, tudo bem?" sinceramente, mesmo estando mal; sempre responderemos "bem, obrigado" de forma automática, e isso é não nos dar permissão para sermos humanos. E nós pagamos um preço bem alto por isso, a nossa saúde mental vai para o saco e, por consequência, a física também.
Não me entenda mal, não estou falando para você se lamentar para todo mundo que passa por você, se vitimizar faz tão mal quando reprimir o que sente.
O que fazer então? Você precisa encontrar nichos restauradores, um momento e lugar para se dar permissão para ser humano. Como? Chorando (liberamos oxitocina, hormônio do amor, e opiáceos, "drogas" naturais do corpo que nos acalmam) ou escrevendo sobre as emoções e experiências (expressar em vez de reprimir), por exemplo, e isso diminui os riscos de sofrer depressão e ansiedade, sabia? Portanto:
"O PRIMEIRO PASSO PARA A FELICIDADE É PERMITIR SE SENTIR INFELIZ" -- Tal Ben-Shahar
Existem algumas condições que Tal Ben-Shahar lista para aumentar a probabilidade de antifragilidade e aumentar a felicidade, mas isso vou deixar para outro post. Clique aqui para ler a continuação.
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