top of page

Ocitocina: o hormônio social

Você sabia que a evolução não foi projetada para deixar os humanos felizes?


Pensa no contexto: somos homens das cavernas, não sabemos como será o dia de amanhã, compartilhamos o ambiente com animais perigosos e precisamos caçar para a nossa sobrevivência. Por uma extensa época evolucionista, só nos preocupávamos em sobreviver e reproduzir, nada além disso.


Se a biologia não incentiva a felicidade, somente a sobrevivência, então por que nos preocupamos tanto com a felicidade?


amigos pulando felizes

Causas fundamentais versus imediatas


Biólogos evolucionistas falam sobre as causas fundamentais versus imediatas. A causa final da biologia é sobreviver e se reproduzir, mas as causas imediatas são a maneira como fazemos isso.


É aí que a Neurociência entra: ao compreender os mecanismos que evoluímos no cérebro, para que possamos sobreviver e reproduzir efetivamente, descobriremos que há uma abertura para entender de onde vem a felicidade e por que ela é tão importante.


O que é sucesso para você?


Você deve ter pensado: ter uma casa, um carro, um emprego estável...


Bom, os biólogos evolucionistas definem sucesso como ter netos, porque isso significa que você tem bons genes e alimento o suficiente.


Porém, com o passar dos anos, notamos uma queda significativa na quantidade de filhos que as pessoas têm. É só ver a geração dos seus avós, quantos irmãos a sua avó ou avô tinham? Agora você, quantos tem? Ora, se a biologia nos projetou para nos reproduzir o máximo possível, ter muitos netos, mas as pessoas estão voluntariamente optando por não ter muitos filhos, como podemos reconciliar esses dois fatores? Bom, a felicidade explicará.


Descobriu-se que cerca de 200 mil anos atrás, no início da linha homosapiênica, houve uma mutação gênica que aumentou o número de receptores para um neuroquímico chamado ocitocina, no cérebro humano. Essa mutação foi encontrada em uma área do cérebro que modula as informações sociais ou nos ajuda a entender as informações sociais, e isso então se espalhou na espécie e nos tornamos agudamente seres sociais, e isso nos ajudou a sobreviver e a reproduzir.


Cerca de 10 mil anos atrás, quando isso se tornou mais comum, você via civilizações surgindo; então, você começa a não apenas interagir com conhecidos, mas também com desconhecidos. Logo, as nossas habilidades sociais precisaram ser intensamente evoluídas e não demorou muito para surgir a ideia de ajuda social: eu ajudo hoje quem está impossibilitado de fazer algo, pois amanhã pode ser que eu precise dessa ajuda. Com isso, deixamos de ser homo sapiens para sermos homo reciprocanos, a espécie que se conecta e cuida de outras.


Em vez das pessoas quererem muitos filhos, elas focam em ter menos para prezar a qualidade socioeconômica. Pois quanto mais filhos, menor o investimento em educação, alimentação e atenção para cada um. É aquela velha história de prezar mais a qualidade do que a quantidade. 


barra roxa

“Como criaturas sociais, não sobrevivemos bem quando somos marginalizados, não sobrevivemos bem por nossa conta”

Paul Zak -  professor da Claremont Graduate University (Califórnia)



família feliz

Tá, e o que é a ocitocina?


Em termos técnicos que talvez não te importem muito (mas só para dizer que não passei em branco), a ocitocina é um neuropeptídeo / hormônio-peptídico – peptídeos são proteínas formadas por cadeias de aminoácidos ligados por uma ligação peptídica (basicamente é quando solta uma molécula de água na hora de ligar os elementos) – e é composta de 9 aminoácidos. Neuropeptídeos, portanto, são peptídeos produzidos por neurônios e com ação em um receptor acoplado à proteína G - receptores que permitem cascatas de mensageiros intracelulares.


Muito bem, agora vamos analisar uma coisa muito interessante: você já deve ter ouvido a teoria de que as mulheres preferem os caras malvados, certo?


Em um estudo feito na Universidade do Novo México, cerca de 20 anos atrás, mulheres eram orientadas a cheirar bolsas com camisetas que os homens usaram por três dias (sem tirar, sem tomar banho, sem usar perfume, eca). A ideia proposta era de que elas poderiam "farejar" as camisetas dos homens com níveis mais elevados de testosterona. Porém, uma coisa curiosa aconteceu: os cientistas não descobriram nada. E isso é realmente curioso porque a maioria das espécies femininas gosta de “machos alfa”, os com maiores níveis de testosterona, pois eles têm genes melhores e mais chances de sobreviver. 


Mas nos humanos acontece uma coisa que não se vê muito em outras espécies: as mulheres têm um ciclo menstrual mensal, que as difere dos outros mamíferos que possuem ciclo uma ou duas vezes por ano (isso quando têm). 


Então, o estudo foi repetido, mas desta vez foi feito durante o ciclo menstrual de cada participante. E o que os cientistas descobriram é que as mulheres preferiam homens com baixa testosterona quando não estavam ovulando (elas sentiam apenas o cheiro e isso não dizia muita coisa a elas); quando estavam ovulando, elas puderam identificar e preferiram os homens com alto nível de testosterona.


Ou seja, as mulheres gostam dos “bonzinhos”, exceto quando podem engravidar, pois estão inconscientemente pensando “aqueles genes muito dominantes podem ser valiosos para mim”.


O que seriam exemplos generalizados de homens com alta testosterona? Homens briguentos, de pavio curto, que perdem o emprego e traem suas esposas com mais frequência, que passam menos tempo com seus filhos, que são mais propensos a correr riscos e morrer. Ou seja, resumindo, não são bons cônjuges mas têm genes fortes.


Com isso, é meio que “pegue os genes desse macho alfa e ache um cara legal para te ajudar a criar esses filhos”. 


generalização física de um cara malvado

Os homens com alto nível de testosterona possuem genes mais fortes, porém os bonzinhos saem na frente por questões sociais, levando-os a ter uma vantagem reprodutiva quando se trata de criar netos e “ter sucesso”. Quando um parceiro vê o outro como uma pessoa boa, os laços tendem a se fortalecer, os filhos serão melhores emocionalmente, eles serão nutridos, os pais investirão mais e, teoricamente, essas crianças acabarão sendo também pessoas boas. Eles aprenderão a ser virtuosos, confiáveis, honestos, justos e serão mais desejáveis no "mercado do acasalamento".


Então, essa mutação interessante de 200 mil anos atrás mudou a estrutura social dos humanos e fez com que ser uma boa pessoa é uma vantagem evolutiva no mundo de dez mil anos atrás até o tempo atual. 


E sabe o que mais define uma pessoa ser boa? Ela é FELIZ.


Ou seja, uma mutação que aconteceu de forma "aleatória" 200 mil anos atrás estabeleceu a felicidade como algo realmente valorizado. E assim começamos a conectar de forma evolutiva como a felicidade surgiu e se tornou importante para a nossa sobrevivência e reprodução.


E um parêntesis sobre criar filhos: você sabia que quase nenhum outro mamífero investe tanto para criar um filho? Nós, humanos (pelo menos os de bom caráter), investimos muito dinheiro, tempo, cuidado e atenção criando um filho por anos a fio, até décadas; e não é pra menos que ficamos inconformados, chateados ou frustrados quando o nosso filho nos desrespeita, some, não trabalha, faz coisas erradas. Esse investimento altíssimo durante anos é extremamente raro entre as espécies, particularmente para os machos. E esse é um dos principais motivos que a conexão social é necessária. 



Felicidade vs satisfação com a vida


Podemos dizer que a satisfação da vida é a meta mais valiosa para qualquer ser humano, pois nos dá um significado, um propósito para viver uma vida plena, mais do que simplesmente felicidade aguda. É uma soma de vários momentos de felicidade, com alguns novos elementos, incluindo coisas que a gente não tem o mínimo de controle sobre.


Elementos que não temos o mínimo de controle sobre:


  • Genética: acontece que dentre 32 a 50% de sua satisfação com a vida (Satisfaction With Life - SWL), o chamado “ponto de ajuste de satisfação”, vem dos seus genes. Então, algumas pessoas simplesmente nascem felizes e nunca passarão por depressão, enquanto outras (inclusive, podendo ser da mesma família) passam por condições totalmente diferentes por causa de seus genes (algo incontrolável). Mas vendo pelo lado positivo, isso significa que você tem, no mínimo, outros 50% que você pode controlar.

  • Personalidade: isso é amplamente genético. Pessoas mais abertas a novas experiências tendem a ser mais felizes, enquanto existem outras que apenas preferem ficar em casa fazendo suas coisas, sem muita interação com outros humanos, sem abrir tantas oportunidades de receber alegria mas também não enfrentam experiências infelizes (ficam sempre na mesma neutralidade). Indivíduos que são neuróticos por personalidade (neuroticismo) tendem a ser menos felizes também, pois são extremamente ansiosos. Entenda mais sobre ansiedade aqui.

  • Cronotipo: existem pessoas mais diurnas e outras mais noturnas, ou seja, respectivamente, pessoas que acordam mais cedo e possuem picos de energia maiores durante a manhã e outras que os têm à noite. As diurnas tendem a ser mais felizes do que as que ficam acordadas durante a madrugada. É possível mudar de um para outro, mas geralmente é algo genético.

  • Transtorno afetivo sazonal: também genético. Isso acontece em latitudes mais altas ou latitudes muito baixas, nas quais você tem menos luz no inverno e as pessoas tendem a ter depressão sazonal. Claro, isso tem tratamento, mas a falta de luz pela manhã pode influenciar bastante no nível de SWL.

  • Idade: a SWL tende a aumentar após a meia-idade. Tendemos a ser felizes quando somos crianças, mas ao nos tornarmos adultos temos que ir ao mundo, fazer faculdade, pagar boletos, conseguir um emprego, criar uma carreira, e inevitavelmente a felicidade tende a diminuir. Depois da meia-idade, lá pelos 45 anos, vemos que a maioria das pessoas ficam realmente mais felizes, pois (teoricamente) não tem mais aquela preocupação em serem aceitos, em sentirem necessidade de aprovação, em fazerem algo só para agradar os outros; as prioridades mudam para focar o tempo em coisas que são mais valiosas para si mesmo e para as pessoas queridas à sua volta.


barra roxa

“Dizer não é uma maneira muito eficaz de concentrar seu tempo nas coisas que lhe dão mais prazer, que criam mais significado e satisfação” - Paul Zak



Elementos que temos o controle sobre:


  • Casamento: o parceiro que escolhemos, se tem uma conexão forte e sexo frequente, o nível de SWL tende a ser maior.

  • Filhos: você os cria do jeito que você achar melhor. Se eles ficarem muito dependentes de você, morando por muito tempo na sua casa e não sabendo se virar, pode ser que você tenha grande responsabilidade nisso. E tendo-os grudados em você, você acaba não conseguindo desenvolver hobbies ou atividades que sejam para o seu próprio bem-estar.

  • Propósito: achar uma carreira que preencha o seu coração, que ajude pessoas e que você se sinta bem com isso.

  • Religião: Há relatos em que pessoas religiosas que participam ativamente da comunidade têm maior nível de SWL, mas não necessariamente por causa da religião em si, e sim da interação social entre os membros. Caso você não tenha religião, você pode participar de outros tipos de comunidade.

  • Vida social: se você investe (tempo, por exemplo) em outra pessoa, a tendência é ela retribuir e investir em você também; é a famosa lei da reciprocidade. Portanto, construir fortes amizades é uma maneira muito eficaz de aumentar o seu nível de SWL.

  • Qualidade dos relacionamentos íntimos: isso inclui família, amigos e parceiro(a). São as pessoas que se preocupam contigo, que investem em você e vice-versa. 


barra roxa

“Então, quando você ajuda outras pessoas, você constroi uma rede melhor e maior de indivíduos que se preocupam com você, e você com eles; essa rede gera uma vida significativa.” - Paul Zak


Entenda: ter maior nível de SWL não significa ter apenas momentos felizes na vida, isso é impossível. É somar os momentos felizes e aprender com os momentos infelizes, desenvolver a antifragilidade.



idosa feliz e grata

Ocitocina


A ocitocina é um neuroquímico produzido no tronco cerebral que se conecta a receptores em todo o cérebro, principalmente no córtex frontal, mas também é liberado na corrente sanguínea, e assim podemos medí-lo no sangue.


Quanto maior a quantidade liberada desta molécula, maior a conexão que fazemos com quem estamos interagindo. Ela é estimulada por quase qualquer interação social positiva, ela nos faz aumentar a nossa empatia (se colocar no lugar do outro), nos motiva a trabalhar para ajudar outras pessoas e também reduz o nosso estresse fisiológico, induzindo o cérebro a liberar outros dois neurotransmissores: a serotonina e a dopamina (chamamos esse sistema de liberação ocitocina-serotonina-dopamina de ‘circuito de empatia’). 


A dopamina é a molécula que aprende: ela nos dá uma recompensa (bem-estar) quando fazemos algo que é valioso para nós; então, quando temos uma interação positiva com outro ser humano, a ocitocina fará com que o cérebro produza um pouco de dopamina que diz “continue fazendo isso, isso é bom”.


A serotonina está associada ao humor, ou seja, quanto maior a produção de serotonina, melhor é o humor e menor é o nível de estresse. Então, opa, voltamos a falar da felicidade


Com a produção de tantos neuroquímicos do bem-estar, os comportamentos sociais positivos são reforçados, o que podemos chamar de “bons comportamentos” para criar uma boa relação. Por ser tão gratificante, Paul Zak define que “a ocitocina é o substrato biológico do amor e da reciprocidade”.



Neuroplasticidade


A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se adaptar a novas ideias, conceitos e hábitos. Isso significa que podemos “hackeá-lo” para uma maior SWL: quanto mais você faz algo, mais ele quer daquilo, então quando você entende o que te traz satisfação e o que não traz, você pode começar a mover a sua vida em direção aos fatores que irão gerar satisfação com a vida. E você irá perceber que tais atividades não são egoístas, elas são sobre conexão e estar perto de outras pessoas. 


As pesquisas do cérebro mostram que quanto mais ocitocina você libera, mais oportunidades você tem para se conectar com outras pessoas e você influencia o cérebro a liberações futuras de ocitocina que, por sua vez, nos motiva a nos conectar e ajudar os outros. Logo, se há uma reciprocidade, então temos a oportunidade de construir relacionamentos, que são impulsionadores da felicidade, como vimos anteriormente, e assim aumentam o nosso nível de satisfação com a vida.


E como admitir se uma experiência é boa ou não?


Você precisa estar em estado de IMERSÃO. Aposto que você já chorou vendo Rei Leão, acertei? Mesmo sabendo que aquilo é um desenho, que tem atores dublando, que não é real, você está imersivo; esta imersão é a soma entre estar muito atento e concentrado com uma grande ressonância emocional, ou seja, é estar sob efeito hipnótico. Para ter experiências imersivas, você deve estar totalmente presente no que está acontecendo e calmo e aberto o suficiente para sentir as emoções do momento. E é assim que conseguimos hackear o nosso cérebro.



HACK #1: filmes, vídeos, anúncios


Um vídeo, um filme ou uma série que seja bem imersiva tem uma forte correlação positiva com a melhoria do humor, e você percebe isso de forma intuitiva. Essa medida vai muito além de dizer apenas “ah, eu gosto disso”, pois o seu cérebro admite que foi algo muito valioso para você. Para isso, existe uma estrutura universal no mundo cinematográfico que se chama “arco dramático”, formada por: exposição dos fatos > ação crescente > climax > queda de ação > desfecho.


Esta estrutura é tão poderosa que nos transporta para o mundo de outras pessoas, mesmo que nós sabemos que são fictícios, que são atores ou desenhos, nos deixando totalmente imersos. 



HACK #2: vivendo experiências incríveis


Nós nos sentimos felizes quando vamos às compras, quando vivemos uma experiência prazerosa, quando passamos tempo com pessoas que amamos, quando alguém nos cumprimenta, quando recebemos brindes… Esses pequenos picos de prazer nos trazem um maior nível de SWL.


homem de braços abertos no topo de uma montanha

HACK #3: reduzindo o estresse


O estresse inibe a produção de ocitocina, pois quando estamos em um elevado nível de estresse, entramos no modo de sobrevivência. Se você está tentando sobreviver os próximos 10 minutos, o seu cérebro não vai querer queimar a energia metabólica para produzir ocitocina e te motivar a se socializar ou ajudar outra pessoa; você só quer sobreviver. 


O estresse também inibe a imersão, isso significa que a mente da pessoa está viajando em Nárnia e nega o momento presente, se tornando incapaz de aproveitar o que está acontecendo naquele momento. Por exemplo, um pai de família muito estressado e preocupado que está faltando dinheiro muito provavelmente não irá conseguir se concentrar no momento em que decide brincar com os filhos; ficará pensando no que fazer para reverter a situação, no que a falta de dinheiro poderá acarretar, nas contas a pagar e no que precisará cortar. Isso já é o suficiente para o nível de SWL baixar drasticamente e, por consequência deste momento em que ele não consegue brincar direito com os filhos, os filhos sentem a ausência do pai. Isso sem contar a possibilidade da raiva e da frustração serem descontadas nos filhos, o que pioraria exponencialmente o quadro, degradando o valor das relações. 


Nesses momentos de alto estresse, é recomendada a meditação, a respiração profunda, dar uma caminhada, ou simplesmente aceitar uma frase que eu adoro:


barra roxa

"Tem solução? Então por que te preocupas?

Não tem solução? Então por que te preocupas?"

- Autor desconhecido


Evitar pré-ocupar a cabeça é uma habilidade que deve ser desenvolvida, não é fácil, porém eu te garanto que vai melhorar muito a sua qualidade de vida e de seus relacionamentos.


Dica de ouro: o sono interfere diretamente no seu nível de estresse. Entre os elementos mais importantes para ter uma boa saúde mental e emocional, o SAES (sol, alimentação, exercício físico e sono), o sono é a base de tudo. Clique aqui para ler a matéria.


Curiosidade: quanto mais velho você se torna, mais facilmente a ocitocina é liberada e mais imerso você tende a estar em suas experiências. Isso acontece porque, com o avanço da idade, você acaba se preocupando menos com o que os outros pensam de você e não quer mais perder tempo com coisas que não te agradam; a sua habilidade em dizer ‘não’ já está bem desenvolvida. 



HACK #4: trabalho


Até há algum tempo atrás, todos trabalhavam em coisas chatas por pura obrigação. Claro que hoje em dia ainda existem muitas pessoas que infelizmente não conseguem trabalhar naquilo que gostam, mas existe uma boa parte que tem prazer em fazer aquilo que chamamos de “trabalho”.


Eu coloco entre aspas porque a palavra “trabalho” deriva do latim tripalium ou tripalus, uma ferramenta de três pernas que imobilizava cavalos e bois para serem ferrados. Curiosamente, era também o nome de um instrumento de tortura usado contra escravos e presos, que originou o verbo tripaliare, cujo primeiro significado era “torturar”. Ou seja, trabalho literalmente significa tortura, mas não precisa mais ser assim. No momento em que você consegue enxergar um grande propósito dentro da sua atividade no trabalho, você cria prazer em estar lá.


barra roxa

“Em cada meio, o propósito de cada organização é melhorar a vida das pessoas” - Peter Drucker e Edwards Deming



É por isso que você paga por um item ou um serviço; é a única razão pela qual ONGs e, teoricamente, governos existem: para lhe ajudar a ter uma vida melhor. Com o propósito definido, o nível de confiança tanto da empresa quanto dos funcionários (ou autônomos) aumenta; e este nível também envolve confiança entre colegas.


Em um estudo comparando pessoas nos EUA em 2018 que trabalhavam em organizações de alta confiança com os que trabalhavam em organizações de baixa confiança, o primeiro grupo gostava do trabalho 60% mais do que o segundo grupo. Mas não me entenda mal, isso não significa que o trabalho deles era perfeito, lindo e maravilhoso o tempo todo, isso não existe. Porém, pessoas que escolhem criar ambientes de trabalho de alta confiança entre colegas com o propósito bem definido tendem a ser mais felizes e satisfeitos no emprego.


E olha que interessante: por consequência, essas pessoas se tornam mais felizes também FORA do trabalho; se tornam melhores pais, cônjuges, cidadãos, pois no trabalho seus cérebros são treinados para terem melhores conexões e experiências sociais imersivas e isso se reflete em casa, na família, na comunidade.


ambiente de trabalho saudável


HACK #5: investir nas relações interpessoais e no amor


Passar mais tempo com as pessoas que você gosta é uma ótima escolha para aumentar o seu nível de SWL. Caso você seja introvertido, como eu, ou tímido, pode se tornar algo mais difícil de ser feito, porém é importante perceber a importância dessas interações interpessoais ao longo de tudo o que eu já falei aqui.


Dicas na hora da interação:

  • Termine qualquer conversa com a pergunta: “como eu posso ser útil para você?”, seja por e-mail, videochamadas ou presencialmente. Pense em como você pode ajudar outras pessoas, pois servir aos outros cria relações de comportamento recíproco e traz maior SWL. Porém, claro, não ofereça ajuda se você não vai ajudar de coração; não faça apenas pensando no que terá de volta. 

  • Crie um diário de gratidão: escreva ou fale para as pessoas ao seu redor o quão grata(o) você é por eles e por quê. É bem eficaz escrever, antes de dormir, três coisas que aconteceram no seu dia pelas quais você se sente grato. Isso envolve desde um dia ensolarado até alguém que te ajudou ou conheceu; não existe coisa grande ou pequena, o importante é sentir gratidão.

  • Expresse o seu amor de forma frequente: diga aos outros que você os ama. Não precisa ser com segundas intenções, pode ser de uma maneira amiga, que você realmente se importa com eles. Distribua abraços, o máximo que você puder, dê presentes, surpreenda as pessoas que você ama, coloque em ação a sua linguagem do amor. 


Para você que convive com pessoas difíceis de lidar, aprenda o seguinte: ironicamente, as mais difíceis são aquelas que mais precisam de amor e de atenção. Cada um tem a sua própria realidade, histórias e traumas, e se a pessoa se tornou difícil, é porque ela não teve dias fáceis e aprendeu a ser assim por sobrevivência.


Quando você reflete sobre a chance de adicionar amor à vida desta pessoa, como uma oportunidade de criar laços, você pode melhorar o seu dia e, na melhor das hipóteses, a vida dela também. Se fizer isso de forma altruísta, sem esperar nada em troca, muito provavelmente você se sentirá mais feliz e preenchido.


barra roxa

“Devemos valorizar pessoas difíceis, pois elas nos dão a oportunidade de realmente exercer a compaixão” - Dalai Lama



HACK #6: tenha um pet


Animais de estimação, especialmente cachorros, podem ser responsáveis por liberar grandes doses de ocitocina e melhorar o seu humor. 


mulher com um cachorro


CURIOSIDADES EXTRAS


Relação da ocitocina com:


  •  Estrogênio: Já vimos que o estresse é um inibidor da ocitocina, assim como a testosterona. O estrogênio (hormônio feminino) aumenta a absorção de receptores baseados na ocitocina, então o torna mais biologicamente ativo ou mais comportamentalmente ativo; e a progesterona (hormônio sexual feminino essencial para preparar o organismo para uma gestação) tem o efeito oposto, tende a bloquear a absorção, como vimos anteriormente no estudo que envolve ciclos menstruais. Estudos mostram que mulheres liberam maior quantidade de ocitocina que os homens, quando expostos ao mesmo estímulo social; porém, os efeitos comportamentais são variados devido à variação do ciclo menstrual. 

  • Ambiente físico: Comparando ambientes de trabalho, os espaços de escritórios abertos, que são mais movimentados e barulhentos, na verdade facilitam uma maior imersão nas tarefas. Curiosamente, as pessoas confiam mais em seus colegas quando se tem movimento ao redor e assim se tornam mais produtivas.

  • Confiança: Quão difícil é restaurar a confiança depois que ela foi quebrada? E como é mais fácil construí-la pela primeira vez? Dados mostram que a confiança é construída ao longo do tempo, mas pode ser facilmente quebrada. A forma mais eficaz de ser consertada é reconhecendo o erro e, em seguida, ficar vulnerável, estar emocionalmente aberto para fazer essa correção. Segundo estudos, a infusão de ocitocina facilita e aumenta a probabilidade de reparar uma violação de confiança. Porém, é importante lembrar que não precisamos injetá-la como droga, e sim podemos ativá-la no nosso sistema, pedindo desculpas sinceras, corrigindo os erros e se vigiando para não repeti-los no futuro.

  • Ansiedade: Vimos anteriormente que o estresse inibe a liberação de ocitocina, e a ansiedade é um tipo de estresse. Estudos mostram que quem tem ansiedade clinicamente diagnosticada têm uma desregulação da ocitocina, mas quem apresenta ansiedade generalizada é mais uma inibição da liberação de ocitocina, de modo que essas pessoas não se envolvam em tantos comportamentos sociais.  Dito isso, o tratamento padrão para a ansiedade usando inibidores de recaptação de serotonina (Prozac, Paxil etc) aumentará fracamente os níveis de ocitocina. Então esse tipo de tratamento tem como objetivo a redução do estresse de estar ansioso mas ajuda a promover comportamentos sociais. 


Comments


Commenting has been turned off.
bottom of page